Marcas & NFTs: do digital ao mundo real
Recentemente nós falamos por aqui sobre os tokens não fungíveis – NFTs para os íntimos – e o assunto gerou bastante interesse e dúvidas sobre como essa tecnologia pode impactar as marcas nos ambientes digitais. Mas antes, se você ainda não sabe tanto sobre essa tecnologia, a gente conta tudo o que você precisa saber para se atualizar.
A nova moda digital do momento não é assim tão nova. Na verdade, os NFTs já estão no mercado há um bom tempo, mas circulando em um formato que, na maioria das vezes, nos passa despercebido. O assunto recebeu um pouco mais de notoriedade após a chegada das criptomoedas. E, de certa forma, se comportam como tal. CryptoKitties, um jogo de negociação digital na plataforma de criptomoedas Ethereum, foi um dos NFTs originais, permitindo que as pessoas comprassem e vendessem gatos virtuais, que eram únicos e armazenados na blockchain.
Recapitulando, o que significa dizer tokens não fungíveis?
O token registrado na blockchain é um ativo que pode ser uma propriedade, obra de arte ou dinheiro, por exemplo. Quem possui o token de uma obra de arte, possui direito a ela ou parte dela.
Segundo o Código Civil Brasileiro, bens fungíveis são aqueles que “podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade”. Um bom exemplo é o dinheiro: se você possui uma nota de R$ 20, pode trocá-la por duas notas de R$ 10 ou quatro notas de R$ 5. O valor permanece o mesmo, mas os ativos mudaram.
O não fungível é exatamente o oposto, uma vez que não pode haver uma troca de equivalência em espécie, qualidade e quantidade. A Noite Estrelada, pintura de Vincent van Gogh, por exemplo, é um bem não fungível, uma vez que ela é única e, por isso, não há como trocá-la.
Colocando resumidamente, os tokens não fungíveis são ativos que podem transformar obras de arte digitais e outros itens colecionáveis em ativos únicos e verificáveis, que são fáceis de negociar na blockchain. Embora isso possa estar longe de ser simples para os mais leigos, a recompensa tem sido enorme para muitos artistas, músicos, influenciadores e afins, com investidores gastando muito dinheiro para possuir versões NFT de imagens digitais.
Por exemplo, o primeiro tweet de Jack Dorsey foi vendido por US$ 2,9 milhões, um videoclipe de uma enterrada de LeBron James, por mais de US$ 200.000 e um Nyan Cat, um desenho animado de um gato cinza feito em pixel art voando no espaço em loop, foi vendido por US$ 600.000.
Nós falamos mais sobre essa relação de NTFs e o mundo da arte no artigo NFTs, arte e rentabilidade, que você pode ler clicando aqui.
As marcas apostam na geração de receita
Uma das principais características para uma marca de sucesso é reconhecer o potencial das novas ferramentas que surgem e, principalmente, saber usá-las a seu favor. No caso dos NFTs, isso não seria nem um pouco diferente, afinal, depois de negociações milionárias ganharem as mídias por todo o mundo, as marcas perceberam que há todo um novo terreno que, se bem explorado, pode se mostrar muito fértil.
Desde então, os NFTs têm sido usados por profissionais de marketing de diversas maneiras, tanto para estimular a conscientização do público quanto para geração de receita. Os exemplos são inúmeros e não param de surgir do novo programa da Fox Krapopolis, criado por Dan Harmon, que terá seu próprio mercado de NFT, no qual os fãs poderão comprar NFTs de personagens, fundos, gifs e até a E.l.f Cosmetics, que lançou nove NFTs baseados em maquiagem e os vendeu por US$ 5 a US$ 9, comparáveis ao que os produtos reais custam nas lojas.
Embora possa não parecer muito, a verdadeira geração de receita vem, nesses casos, a partir da revenda. Quando um NFT é revendido, o criador original recebe uma parte da venda automaticamente. Para entender melhor como isso funciona e pode ser rentável, o NFT da Pizza Hut usado para promover novos sabores no cardápio foi originalmente vendido por 0,0001 Ethereum ou cerca de 18 centavos. Logo após a compra, o dono do token o colocou à venda por 5 Ethereum, o equivalente a R$ 68.760,74. Enquanto parece que a Pizza Hut perdeu dinheiro ao negociar, a tão baixo preço, sua NFT no mercado, ela receberá 1% de todas as revendas futuras.
O mercado de NFTs tem se mostrado altamente rentável e foi responsável por movimentar, nos três primeiros meses de 2021, mais de 2 bilhões de dólares, um valor 20 vezes maior do que o registrado no ano de 2020. Tamanho sucesso faz com que as marcas voltem suas atenções para o mercado em expansão. Nike, Coca-Cola e Gucci são exemplos de corporações atentas ao mercado NFT, incorporando estratégias para a comercialização de ativos.
A raridade é o principal ativo do mercado de luxo digital
O conceito principal dos tokens não fungíveis é a criação de escassez e geração do sentimento de exclusividade. Esses, quando aliados, atuam como catalisadores centrais para o mecanismo mercadológico dos NFTs.
Ao que parece, a Nike entende muito bem disso e está pronta para entrar de fato nesse mercado. Recentemente, a gigante multinacional do ramo de moda e artigos esportivos anunciou a compra da RTFKT, uma das maiores empresas do setor da moda em NFT. Segundo a empresa estadunidense, o objetivo é conectar pares de tênis físicos às suas versões digitais. Indo na vanguarda do movimento, é possível adquirir um tênis ou peça de vestuário da Nike na sua versão digital e também receber uma versão física do produto.
Ao lado da Nike, outra empresa parece querer unir o mundo real e o digital quando se trata de NFTs. A Lamborghini está lançando um único NFT, que será leiloado ao lado do último Lamborghini Aventador LP 780-4 Ultimae Coupe. A obra de arte será com tema de Marte e projetada pela artista Krista Kim, enquanto o DJ Steve Aoki criará uma faixa personalizada que será apresentada como parte do ativo. O comprador da NFT receberá vantagens especiais, incluindo prévias virtuais dos próximos modelos de edição limitada, um tour privado pelo museu da marca na Itália e um ponto de encontro virtual com Aoki e Kim.
O novo NFT segue o lançamento anterior, realizado em fevereiro, também para o Aventador, que mostrava o carro seguindo em direção às estrelas. A aposta é que, num futuro não tão distante, o Aventador seja recriado como um híbrido V12 em NFT, uma vez que a Lamborghini planeja eletrificar seus carros em 2023 e 2024.
O mundo do entretenimento parece apostar alto
Em 16 de maio deste ano, sob a Lua de Sangue, a Archie Comics lançará sua primeira coleção NFT inspirada em The Chilling Adventures of Sabrina. Ilustrados pelos artistas italianos Laura Braga e Vicenzo Federici, os NFTs serão emitidos em parceria com a Palm NFT Studio. Archieverse: Eclipse contará com 66.666 personagens NFT, dando aos fãs de quadrinhos o poder de criar histórias futuras para a franquia. Donos de NFTs da coleção Eclipse terão a oportunidade de enviar histórias para seus próprios personagens e os selecionados receberão créditos nos quadrinhos posteriores.
“Enquanto observávamos o surgimento dessa nova tecnologia empolgante e um novo fandom crescendo em torno dela, sabíamos que precisávamos encontrar o parceiro e a plataforma certos para apresentar o Archie 3.0”,
disse o CEO da Archie, Jon Goldwater, em comunicado.
Outra empresa que já incorporou os NFTs à sua estratégia foi a Paramount Global, antiga ViacomCBS, que lançou sua plataforma de NFTs com uma coleção Star Trek no dia 9 de abril. Como um agregador de NFTs, a empresa também lançou o Star Trek Continuum, um hub dentro da plataforma. A empresa promete novos lançamentos, que incluem NFTs de membros da equipe de Star Trek e um jogoplay-to-earn que serão sitiados dentro do hub.
Além disso, a Paramount.xyz, a plataforma-mercado NFT da empresa de mídia, lançará em breve coleções pertencentes à Nickelodeon e à Paramount Pictures. O esperado é que outras marcas do portfólio da Paramount, como Comedy Central, MTV e BET, sigam o exemplo. A plataforma foi desenvolvida com a empresa de tecnologia NFT Recur e permitirá que os fãs comprem e negociem colecionáveis digitais, além de desbloquear experiências futuras.
E pra onde caminha tudo isso?
A descentralização financeira é um fator-chave nas negociações dos ativos digitais e das criptomoedas, característica essa que permite uma maior liberdade para seus usuários. E essa descentralização parece favorecer o poder de compra do público que tem se interessado cada vez mais em seguir por caminhos menos tradicionais, saindo das grandes instituições bancárias.
A constante transformação do mundo e as evoluções tecnológicas e sociais que vêm ocorrendo com a sociedade são fatores que nos deixam incertos sobre o caminhar das relações financeiras dentro e fora do ambiente digital. O que podemos concluir é que marcas que souberem incorporar a nova tecnologia à sua estratégia terão um novo artifício na geração de relacionamento e relevância com seus clientes, aumentando a sensação de pertencimento e, em consequência, a receita gerada a partir da fidelização.